domingo, 4 de dezembro de 2011

Avaliação laboratorial dos líquidos cavitários.


Normalmente, existe um pequena quantidade de fluido estéril e límpido nas cavidades corpóreas, resultante de um ultrafiltrado do plasma que tem a função de lubrificar e permitir a movimentação das vísceras entre si, sem que ocorra aderência entre elas. O cúmulo desses fluidos nas cavidades, também denominados efusões é comum em muitos processos patológicos onde somente uma análise laboratorial associada a uma anamnese e a um exame físico cuidadoso, podem esclarecer a sua origem.
O acúmulo de líquidos nas cavidades se formam em decorrência de vários processos patológicos, sendo as principais:

Ruptura de uma estrutura (vaso sanguíneo, vaso linfático, vesícula urinária, vesícula biliar e alça intestinal)
Aumento de pressão hidrostática (em vasos sanguíneos  e vasos linfáticos)
Diminuição da pressão oncótica (hipoalbuminemia causada por perda intestinal, perda renal e diminuição da síntese hepática)
Aumento da permeabilidade vascular (infecções sistêmicas e processos inflamatórios locais)

Avaliação dos aspectos físicos (cor, turvação, e densidade)
Em relação à cor:
Incolor (decorrente de diminuição pra pressão oncótica por hipoalbuminemia)
Avermelhado (decorrente do aumento da pressão hidrostática e vasos sanguíneos, punção iatrogênica de um vaso durante colheita)
Vermelho (decorrente de ruptura de vasos sanguíneos)
Amarelado (decorrente de acúmulo de células inflamatórias e de proliferação bacteriana)
Leitoso (decorrente de ruptura de vasos linfáticos).

Em relação à turvação:
Pode ocorrer devido acúmulo de células (inflamatória, mesoteliais ou neoplásicas), bactérias ou detritos alimentares (ruptura de alça intestinal).

Em relação à densidade:
Está diretamente relacionada a turvação do líquido onde, por exemplo, líquidos turvos geralmente  tem densidade elevada quando comparados com líquidos límpidos decorrentes de hipoalbuminemia.

Avaliação citológica
É, preferencialmente, feita na amostra colocada dentro do tubo sem anticoagulante, evitando-se assim alterações morfológicas  decorrentes de contato prolongado com EDTA.

Avaliação bioquímica
É feita por meio de mensuração de substâncias no liquido não coagulado (Proteína Total, creatinina, triglicérides, colesterol, bilirrubinas e amilase ou lípase)

                                    Transudato
Exsudato

Simples
Modificado
Asséptico
Séptico
Aspecto
Límpido
Ligeiramente turvo
Turvo
Coagulação
Ausente
Presente
Densidade
< 1,017
1,017 – 1,025
> 1,025
Proteína
< 2,5 g/dl
≥ 2,5 g/dl
≥ 2,5 g/dl
Contagem celular
< 1.000/mm³
≤ 5.000/mm³
> 5.000/mm³ (Neutrófilos, línfócitos e hemácias)
Células predominantes
Mesoteliais
Mononucleares
Neutrófilos íntegros
Neutrófilos degenerados
Bactérias
Ausentes
Ausentes
Presentes
Principais causas
Hipoalbuminemia
Pressão Hidrostática
Processo inflamatório estéril
Processo inflamatório séptico
Classificação dos líquidos cavitários de acordo com suas características físico-químicas e citológicas.

FONTE: BACIC, A. Avaliação laboratorial dos líquidos cavitários. Rev. Clínica Veterinária,  São Paulo,    n. 93 p. 94-99, 2011.

domingo, 24 de julho de 2011

Hematologia - Valores de Referência

Para considerar os resultados de exames laboraoriais como anormais, deve - se ter conhecimento da faixa de variação dos valores em animais sadios. Essas variações são denominadas valores de referência.


 VALORES DE REFERÊNCIA PARA HEMOGRAMA EM GRANDES ANIMAIS

Unidades
Equinos
Bovinos
Eritrócitos
milhões/mm³
6,5 - 12,5
5,0 - 10,0
Hemoglobina
g/dl
11 - 19
8 - 15
Hematrócito (VG)
%
32 - 52
24 - 46
VCM
fl
36 - 52
37 - 53
CHCM
g/dl
34 - 39
4 - 12
Leucócitos totais
células/µl
5.500 - 12.500
4.000 - 12.000
Bastonados
células/µl
0 - 100
0 - 100
Segmentados
células/µl
2.700 - 6.700
600 - 4.000
Eosinófilos
células/µl
0 - 900
0 - 2.400
Basófilos
células/µl
0 - 200
0 - 200
Linfócitos
células/µl
1500 - 5.500
2.500 - 7.000
Monócitos
células/µl
0 - 800
0 - 800
Plaquetas
nº/mm³
200.000 - 600.000
200.000 - 800.000
Proteínas Plasmáticas Totais
g/dl
6 - 8
6 - 8


 VALORES DE REFERÊNCIA PARA HEMOGRAMA EM PEQUENOS ANIMAIS

Unidades
Cães
Gatos
Eritrócitos
milhões/mm³
5,5 - 8,5
5,0 - 11,0
Hemoglobina
g/dl
12 - 18
8 - 15
Hematrócito (VG)
%
37 - 55
25 - 45
VCM
fl
60 - 72
39 - 50
CHCM
g/dl
32 - 36
33 - 37
Leucócitos totais
células/µl
6.000 - 17.000
5.500 - 12.500
Neutrófilos Bastonetes
células/µl
0 - 300
0 - 300
Neutrófilos Segmentados
células/µl
3.000 - 11.500
2.500 - 12.500
Eosinófilos
células/µl
100 - 1200
0 - 1500
Basófilos
células/µl
Raros (0 - 100)
Raros (0 - 100)
Linfócitos
células/µl
1.000 – 5.000
1.500 - 7.000
Monócitos
células/µl
0 - 1.200
0 - 800
Plaquetas
nº/mm³
200.000 - 500.000
150.000 - 700.000
Proteínas Plasmáticas Totais
g/dl
6 - 8
6 – 8,5

THRALL, M. A. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 1 ed. Roca: São Paulo, p. 122, 2007.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coleta e Processamento de Amostras

Vários são os equipamentos utilizados para obtenção de resultados laboratoriais, onde a cada dia são aperfeiçoados através de novas tecnologias. Independente do laboratório ou da técnica para o teste de diagnóstico, a obtenção de resultados confiáveis começa com a adoção do método de coleta apropriado e manuseio adequado da amostra. A coleta, o processamento, a análise da amostra e a interpretação dos resultados devem ser efetuados como uma cadeia seqüencial de eventos completa, para que se obtenha o diagnóstico pretendido.
  
1.      Recipientes para coleta

  • Tubo com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) 
O tubo de tampa lavanda contém o EDTA no qual tem a finalidade de preservar melhor o volume celular e as características morfológicas das células no esfregaço corado.
Função: Conservar a morfologia das células sanguineas.
Principal uso: Hematologia.
Exames: Hemograma completo.

  • Tubo de coleta de Soro   
O tudo de tampa vermelha, destinado à obtenção de amostra de soro, não possui anticoagulante. O sangue nele deve então coagular para que se obtenha o soro necessário às análises.
Função: Usado para diversas funções, como testes sorológicos.
Principal uso: Sorologioa e bioquimica.
Exames: Testes sorológicos.


  • Tubo com heparina 
O tubo de tampa verde contém heparina. Esse anticoagulante é utilizado para alguns testes bioquímicos onde outros anticoagulantes podem influenciar no resultado.
Função: Conservante multi-funcional, principalmente para aferições gasosas.
Principal uso: Gasometria.
Exames: Hormônios, gasometria, metais pesados.



  • Tubo com fluoreto 
O tubo de tampa cinza contém fluoreto de sódio, que não é um anticoagulante. O fluoreto inibe enzimas que participam da via glicolítica, impedindo a metabolização da glicose pelos eritrócitos.
Função: Retarda o metabolismo glicolítico.
Principal uso: Glicemia.
Exames: Exame de glicose (Matem conservada a taxa de glicose).
 


  • Tubo com citrato 
O tubo de tampa azul contém citrato. Essa substância é utilizada para a realização de testes como Tempo de ativação de protrombina (TAP) e Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA).
Função: Preserva os fatores hemostásicos.
Principal uso: Estudos da coagulação.
Exames: Coagulograma completo.
 
 


2.      Procedimento para manuseio das amostras
  • Procedimentos hematológicos 
A amostra deve ser analisada preferencialmente dentro de duas horas, inclusive para uma melhor precisão da contagem de plaquetas. Caso o sangue não seja analisado nesse período, deve–se preparar o esfregaço e em seguida, manter o tubo sob refrigeração, podendo durar até oito horas. A refrigeração do tubo auxilia na preservação dos componentes celulares. Ao contrário, o congelamento pode causar lise celular levando a alterações nos resultados hematológicos. Já os esfregaços devem ser fixados com metanol e nunca devem ser refrigerados, pois a condensação de água na lâmina pode alterar a morfologia celular. 
Para os exames hematológicos, o tubo com EDTA 10% deve ser preenchido com o volume especificado para não resultar em alterações dos componentes celulares, o que pode levar a um falso resultado.

  • Procedimentos para bioquímica clinica 
O sangue coletado deve ser mantido em repouso durante 15 a 30 minutos, e em seguida, centrifugado para separar os componentes celulares e o soro. A fase líquida do sangue deve ser separada dos elementos celulares, pois as células metabolizam alguns componentes químicos do soro. O soro obtido deve ser analisado rapidamente ou mantido sob refrigeração durante 24 a 48 horas. Caso haja necessidade de armazenamento por um período superior a 48 horas, o soro deve ser congelado. Para uma maior confiabilidade no resultado o soro deve analisado preferencialmente em 24 horas, mesmo sabendo que os principais constituintes bioquímicos são estáveis quando o armazenamento é feito a uma temperatura de -70Cº. Neste caso, ao descongelar, o soro deve ser homogeneizado para a análise. 
Sangue com fluoreto (glicose e lactato) e citrato (TAP e TTPA) devem ser centrifugados em menos de 40 minutos pós coleta para evitar alterações pré analíticas nos resultados. Amostras de soro para determinação de bilirrubinas devem estar devidamente protegidas da luz. Amostras lipêmicas e/ou hemolisadas interferem de forma significativa nos exames que utilizam metodologia enzimática e colorimétrica.

FONTE:
THRALL, M. A. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 1 ed. Roca: São Paulo, p. 37-40, 2007.